As investigações sobre a crise da Americanas, iniciada há quase dois anos, revelaram um esquema muito mais amplo e sofisticado de fraudes do que inicialmente se imaginava. Além do rombo contábil de R$ 25,2 bilhões já conhecido, novos detalhes expõem uma teia complexa de manipulações que permeavam diversas áreas da empresa.
As irregularidades abrangem desde benefícios executivos irregulares até manipulações sistemáticas de dados financeiros. A alta cúpula da empresa criou um sistema de regalias exclusivo, que incluía o uso de carros blindados de luxo, com descontos de até 80% na aquisição desses veículos, tudo sem a devida autorização do conselho de administração.
As fraudes contábeis se revelaram ainda mais elaboradas. Os investigadores descobriram que a empresa manipulava constantemente diferentes indicadores financeiros. Em um período de um ano, cerca de R$ 200 milhões em custos de fretes foram transformados em investimentos. Os estoques também foram artificial e deliberadamente manipulados, com um "estoque falso" estimado em R$ 700 milhões.
No ambiente digital, a empresa desenvolveu um sistema que multiplicava o Volume Bruto de Mercadorias (GMV) em até 40%, criando uma imagem irreal de desempenho. As Verbas de Propaganda Cooperadas (VPC) também foram alvo de um elaborado esquema de fraude, com a criação de cartas falsas para mascarar irregularidades contábeis.
A gestão imobiliária não ficou de fora das manipulações. A empresa esticava ao máximo os prazos de pagamento, mantinha aluguéis artificialmente baixos e criava mecanismos para postergar reajustes necessários.
Em nota oficial, a Americanas se apresenta como vítima de uma "complexa fraude de resultados", afirmando que os ex-diretores são os principais responsáveis pelas manipulações. A empresa reitera o compromisso de esclarecer completamente os fatos.
As investigações seguem em andamento, conduzidas pela Polícia Federal, Ministério Público Federal, Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e um comitê independente. O caso continua revelando novos e surpreendentes detalhes sobre uma das maiores fraudes corporativas dos últimos anos no Brasil.