A Justiça Federal condenou a empresa Juruena Energia a indenizar a comunidade indígena Cinta Larga em R$ 200 mil por danos ambientais e impactos irreversíveis causados pela instalação da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Juína, localizada entre os municípios de Aripuanã e Juína, a 735 km de Cuiabá.
A sentença, que encerra um processo de 20 anos, também obriga a empresa a regularizar sua situação ambiental e territorial em um prazo de 12 meses, sob risco de ter suas operações interrompidas. Além da indenização por danos morais coletivos, a comunidade receberá compensação pelos danos materiais e royalties mensais pela energia gerada.
Irregularidades desde a construção
A PCH Juína foi construída entre 1983 e 1993 sem as devidas autorizações para uso de recursos em terras indígenas e sem o licenciamento ambiental adequado. O empreendimento ocasionou o alagamento de 193 hectares do território Cinta Larga para a instalação dos reservatórios.
"Alguns direitos indígenas são irrenunciáveis, não são passíveis de transação, como a perda territorial ocorrida neste caso", explicou o procurador da República Ricardo Pael. "Não sei se a compensação chegará a tempo para os indígenas Cinta Larga, mas o exemplo da decisão servirá para questões futuras", acrescentou.
Exigências para continuidade da operação
Para continuar operando, a Juruena Energia deverá:
- Realizar o licenciamento ambiental junto ao Ibama
- Obter autorização do Congresso Nacional para uso das terras indígenas
- Pagar indenização por danos materiais
- Estabelecer pagamento mensal de royalties pela energia gerada
Um estudo técnico do Ministério Público Federal, autor da ação, identificou diversos impactos na vida do povo Cinta Larga, incluindo:
- Perda de recursos naturais (fauna e flora)
- Alterações nas áreas tradicionais de caça e pesca
- Degradação da qualidade de vida da comunidade
A ação, iniciada em 2005, questionou a validade das licenças emitidas pelo estado de Mato Grosso, argumentando que a competência para o licenciamento seria do Ibama, uma vez que a hidrelétrica está situada em um rio interestadual que atravessa o Amazonas e Mato Grosso, além de ocupar terras indígenas constitucionalmente protegidas.