Mundo
1º de Maio: da tragédia à luta por direitos no mundo do trabalho
Originalmente marcado por repressão e sacrifício, o Dia do Trabalhador resgata, até hoje, a urgência por melhores condições laborais e jornada digna

Publicado às
09h32em

Mais do que um feriado no calendário, o 1º de Maio carrega o peso histórico de uma batalha por direitos. A origem da data remonta a 1886, em Chicago (EUA), quando milhares de operários foram às ruas exigir a redução das extensas jornadas diárias — que podiam chegar a 14 horas. A repressão foi violenta. O episódio, conhecido como a “tragédia de Haymarket”, resultou em prisões, mortes e execuções de líderes sindicais.
“O objetivo da greve era instituir uma jornada de 8 horas e denunciar as condições insalubres nas fábricas”, explica o historiador Samuel Fernando de Souza, professor da Escola Dieese de Ciências do Trabalho. Após os protestos, a repressão culminou na condenação à morte de vários ativistas, muitos deles sem provas diretas de envolvimento com os atos violentos.
Durante a Segunda Internacional Socialista, em 1889, o 1º de maio foi oficializado como um dia de luta da classe trabalhadora — em memória dos que tombaram em Chicago e como símbolo global de resistência e reivindicação.
Foto Domínio Público
A socióloga Laura Valle Gontijo, da Universidade de Brasília (UnB), lembra que uma explosão durante as manifestações foi usada como pretexto para a polícia abrir fogo contra os operários. “Foram quatro mortos, centenas de feridos e presos. Oito líderes foram acusados de conspiração, sete deles condenados à morte, sendo que quatro foram enforcados. A data nasce como memória de uma injustiça histórica”, resume.
Uma data em disputa simbólica
No Brasil, o 1º de maio começou a ser lembrado por trabalhadores ainda no fim do século XIX, em cidades como Rio de Janeiro e Porto Alegre. Inicialmente carregado de simbolismo e protesto, o dia foi, ao longo do tempo, sendo disputado por diferentes narrativas.
“Há um esforço, principalmente a partir da década de 1930, de transformar a data em uma celebração do trabalho, esvaziando seu conteúdo político”, aponta Souza. Foi nesse contexto que o então presidente Getúlio Vargas passou a associar o 1º de maio à divulgação de políticas trabalhistas, como o anúncio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o reajuste do salário mínimo.
Após o golpe militar de 1964, com o movimento sindical enfraquecido, o 1º de maio ganhou um caráter festivo e institucional, distante de suas origens combativas. Mas o cenário começou a mudar com o surgimento do “novo sindicalismo”, no fim dos anos 1970.
“Foram os metalúrgicos do ABC, liderados por figuras como Lula, que resgataram o sentido de resistência e mobilização do Dia do Trabalhador”, relembra o historiador. A data voltou a ser marcada por protestos e pautas sociais, especialmente contra a ditadura e por abertura política.
O trabalho ou o trabalhador?
Para a socióloga Laura Gontijo, existe uma diferença fundamental entre celebrar o “Dia do Trabalho” e o “Dia do Trabalhador”. A mudança de nomenclatura, segundo ela, revela uma tentativa histórica de neutralizar o significado político da data.
“Transformar o 1º de maio em algo genérico é esvaziar a sua origem enquanto data de enfrentamento, de reivindicação por condições dignas”, diz. O mesmo processo, segundo ela, ocorre com o Dia Internacional da Mulher, muitas vezes tratado apenas como uma data comemorativa, e não de luta por equidade de gênero.
Desafios contemporâneos
As pautas que marcaram a origem do 1º de maio continuam vivas — e urgentes. “Ainda hoje, trabalhadores enfrentam jornadas excessivas, baixos salários e insegurança jurídica”, afirma Gontijo. Um exemplo é a chamada “pejotização”, modelo que transforma o trabalhador em pessoa jurídica, excluindo-o da proteção da legislação trabalhista.
Outro caso emblemático são os profissionais de aplicativos. “Há entregadores que trabalham até 80 horas por semana. Isso nos remete ao período anterior à regulamentação do trabalho, durante a Revolução Industrial”, alerta.
Dados de uma pesquisa de 2022 revelam que a média semanal entre esses trabalhadores era de 47,6 horas, mas relatos indicam que esse número pode ser significativamente maior — especialmente sem qualquer limitação legal de jornada ou direitos garantidos.
A crítica à escala 6x1 e a defesa da jornada reduzida
A discussão sobre a jornada semanal também está no centro das reivindicações. A proposta de substituir a escala 6x1 por dois dias de descanso por semana ganhou força no Congresso Nacional. “A escala atual impede que o trabalhador tenha vida social, descanso adequado ou convívio familiar. Isso é insustentável”, diz a pesquisadora.
Outro ponto crucial é a proposta de redução da jornada semanal para 35 ou 36 horas, sem corte salarial. “O ideal é estabelecer limites diários e semanais, caso contrário, mesmo com dois dias de folga, as horas podem ser concentradas de forma abusiva durante os dias úteis”, argumenta.
Gontijo também chama atenção para a desvalorização do salário mínimo e o tempo excessivo gasto com deslocamento, especialmente em grandes cidades — fatores que comprometem a qualidade de vida da população trabalhadora.
Resistência ao progresso
Apesar dos avanços tecnológicos que elevaram a produtividade das empresas, os ganhos não têm sido redistribuídos com os trabalhadores. “A mais-valia só aumenta. O trabalhador produz mais, mas continua recebendo pouco”, observa Gontijo.
Exemplos internacionais, como a jornada de 35 horas implementada na França desde 1998, mostram que é possível conciliar produtividade com bem-estar. “Mas, no Brasil, há forte resistência das empresas, com o discurso de que tais mudanças seriam economicamente inviáveis — uma retórica muito semelhante à utilizada no fim da escravidão”, compara a socióloga.
Um passado que persiste no presente
Ao olhar para o presente, percebe-se que a luta que originou o 1º de maio ainda não terminou. As demandas por limites de jornada, proteção social, valorização salarial e dignidade continuam sendo pautas centrais da classe trabalhadora.
Mais de um século depois da tragédia de Haymarket, o Dia do Trabalhador permanece como uma lembrança de que direitos não são dados — são conquistados. E precisam ser defendidos.
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