A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) prevê que o preço do café continuará em alta nas próximas semanas, com possível estabilização apenas a partir do início da safra 2025, prevista para abril ou maio. A escalada nos preços, que teve início em novembro de 2024, é resultado de uma combinação de fatores, incluindo eventos climáticos adversos, aumento do consumo global e a entrada da China como novo mercado consumidor significativo.
De acordo com Pavel Cardoso, presidente da Abic, o impacto sobre os preços deve persistir por mais dois ou três meses, com uma possível estabilização após esse período. No entanto, uma redução efetiva nos preços só é esperada a partir da safra do próximo ano.
O Brasil, responsável por quase 40% da produção mundial de café, seguido pelo Vietnã (17%) e Colômbia, tem enfrentado sucessivos desafios climáticos nos últimos quatro anos. Em 2021, uma geada severa destruiu cerca de 20% da safra de café arábica. A recuperação, que normalmente leva dois anos, foi prejudicada por condições climáticas adversas nos anos seguintes, incluindo os efeitos do El Niño em 2023, que causou estiagem prolongada e altas temperaturas, e do La Niña em 2024, que trouxe períodos extensos de chuva.
Impacto no mercado e no consumidor
A sequência de problemas climáticos forçou os produtores a aumentarem seus investimentos, elevando o custo da matéria-prima. A indústria registrou aumentos superiores a 200% e repassou cerca de 38% desse aumento aos consumidores. Na Bolsa de Nova York, os contratos de café arábica atingiram valores históricos, aproximando-se de US$ 4 por libra-peso.
Consumo e faturamento
O consumo de café no Brasil cresceu 1,11% entre novembro de 2023 e outubro de 2024, atingindo 21,916 milhões de sacas. O país mantém sua posição como segundo maior consumidor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. Em média, cada brasileiro consome 1.430 xícaras de café por ano.
O faturamento da indústria de café torrado no mercado interno alcançou R$ 36,82 bilhões em 2024, um aumento de 60,85% em relação a 2023. No mercado externo, o faturamento foi de R$ 134 milhões.
Aumento por categorias
Os diferentes tipos de café apresentaram aumentos variados ao longo de 2024:
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Cafés especiais: aumento de 9,80%
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Cafés Gourmets: aumento de 16,17%
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Cafés Superiores: aumento de 34,38%
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Cafés Tradicionais e Extrafortes: aumento de 39,36%
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Cafés em cápsula: aumento de 2,07%
Perspectivas futuras
A Abic mantém expectativas positivas para a safra de 2026, que pode superar o recorde estabelecido em 2020. No entanto, até lá, os consumidores ainda devem enfrentar aumentos adicionais, já que a indústria continua absorvendo parte dos custos elevados da matéria-prima.
"Em relação à matéria-prima, devemos ter ainda alguma volatilidade adicional até a chegada da safra", afirma Cardoso, ressaltando que a estabilidade só deve ser alcançada após o início da colheita. Nos últimos quatro anos, enquanto a matéria-prima aumentou 224%, o preço do café no varejo subiu 110%, superando significativamente a média de aumento da cesta básica, que foi de 2,7%.