A partir desta quarta-feira, 1º de janeiro de 2025, o Brasil assume pela quarta vez a presidência rotativa do Brics, em um momento marcante para o bloco, que se prepara para receber ao menos nove novos membros. Com o lema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável", o governo brasileiro buscará promover agendas de reforma da governança global e desenvolvimento sustentável com inclusão social.
Entre os desafios da presidência brasileira, destaca-se a articulação da participação dos novos membros e a continuidade da construção de um sistema de pagamento com moedas locais, que tem como objetivo substituir o dólar nas transações comerciais entre os países. Os novos membros confirmados, segundo informações da agência estatal russa Tass, incluem Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. A Rússia, que ocupou a presidência do Brics em 2024, foi responsável pela inclusão desses países.
O professor de direito internacional Paulo Borba Casella, do Grupo de Estudos sobre o Brics (Gebrics) da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou que um dos principais desafios será criar uma dinâmica eficaz para o Brics, agora ampliado. “Com dez estados e mais uma dúzia de estados associados, será preciso descobrir como o Brasil pode ajudar a fazer o Brics funcionar em sua nova configuração”, ponderou.
Ao todo, treze países foram convidados a participar do Brics, e espera-se que Nigéria, Turquia, Argélia e Indonésia confirmem sua participação. A inclusão dos novos membros foi decidida em outubro de 2024, durante a 16ª cúpula do Brics em Kazan, Rússia, quando uma nova categoria de parceiros do bloco foi criada. A assessoria do Itamaraty, no entanto, não confirmou se os nove países ingressarão como membros efetivos ou parceiros, sendo que apenas os membros têm direito a voto.
Em 2024, o bloco já havia recebido cinco novos membros efetivos, passando a contar com um total de dez países. Os membros originais — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — foram juntados pelo Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Arábia Saudita. Embora a Arábia Saudita ainda não tenha formalizado sua adesão, tem participado ativamente das reuniões.
A coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC do Rio de Janeiro, professora Maria Elena Rodríguez, destacou que a última presidência brasileira do bloco, sob o governo Bolsonaro, não teve a devida importância. “Agora, o Brics está muito mais consolidado, e o Brasil precisa estar preparado para apresentar avanços concretos, especialmente nas negociações em moedas locais”, afirmou.
A proposta de substituir o dólar por moedas locais tem gerado reações, incluindo ameaças do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que indicou que países que abandonarem a moeda americana podem enfrentar aumento de taxas sobre seus produtos. No entanto, Casella acredita que Trump não conseguirá impor tarifas sem prejudicar a economia dos EUA. “O sistema internacional não funciona só com ameaças”, comentou.
Em um cenário onde o Brics se torna cada vez mais relevante, o bloco se posiciona como uma plataforma alternativa para os países insatisfeitos com a ordem internacional dominada pelos EUA. Com dez membros plenos, o Brics representa mais de 40% da população global e 37% do PIB mundial, superando o peso econômico do G7.
Entre as principais demandas do grupo, está a defesa de uma reforma na governança global, que inclui a ampliação da representação de países da Ásia, África e América Latina em instituições como o Conselho de Segurança da ONU e o Banco Mundial. A presidência brasileira do Brics em 2025 promete ser um período crucial para moldar o futuro do bloco e suas relações internacionais.