Pesquisadores do Imperial College London divulgaram um estudo publicado na revista Nature Medicine em 30 de janeiro, que sugere que infecções pelo coronavírus podem acelerar processos biológicos associados ao desenvolvimento do Alzheimer. A pesquisa destaca que os efeitos são especialmente significativos em pessoas que enfrentaram casos graves de Covid-19 ou que já apresentavam fatores de risco pré-existentes para o declínio cognitivo.
A investigação encontrou uma possível ligação entre o histórico de infecções por Covid-19 e o aumento de biomarcadores sanguíneos relacionados à presença de proteínas amiloides defeituosas, uma das principais causas do Alzheimer. Os efeitos observados foram comparáveis a quatro anos de envelhecimento cognitivo, com impactos mais acentuados em pacientes hospitalizados por Covid-19 grave ou que apresentavam condições como tabagismo e hipertensão.
Os resultados indicam que o aumento dos marcadores foi equivalente à metade do que é observado em pessoas com a mutação APOE, que estão em alto risco de desenvolver Alzheimer precoce. As proteínas beta-amiloides (Aβ), quando se desenvolvem de forma anormal, formam aglomerados no cérebro que danificam os neurônios e contribuem para o declínio cognitivo.
O estudo analisou biomarcadores de 1.252 participantes do UK Biobank, com idades entre 46 e 80 anos, comparando aqueles que tiveram infecção prévia por Sars-CoV-2 com um grupo controle.
O neurocientista Paul Matthews, principal autor da pesquisa, ressaltou a necessidade de mais estudos para determinar se a Covid-19 é um fator de risco independente para o Alzheimer, ou se outros patógenos, como o vírus da gripe, poderiam ter efeitos semelhantes. “Há muito tempo suspeitamos de uma ligação entre doenças infecciosas e a progressão de doenças neurodegenerativas, e esta análise sugere que a Covid-19 pode ser um desses impulsionadores, particularmente entre aqueles com fatores de risco subjacentes”, afirmou em comunicado.
Matthews também destacou a importância de entender como doenças infecciosas podem contribuir para a progressão de doenças neurodegenerativas. “Quanto mais sabemos sobre os fatores de risco para demência, mais oportunidades temos para intervir e prevenir”, considerou.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores alertam que o estudo é observacional, avaliando a coincidência de casos em um grupo de pessoas, mas não estabelecendo uma relação de causa e efeito entre a infecção e o desenvolvimento do Alzheimer. Além disso, os biomarcadores utilizados, como a proporção de Aβ42:Aβ40 e níveis de pTau-181, ainda são ferramentas de diagnóstico relativamente novas, cuja utilidade clínica está em avaliação. Portanto, mais estudos são necessários para confirmar as descobertas e entender os mecanismos envolvidos.