O Brasil se prepara para uma nova etapa na proteção infantil: a partir de novembro, o Sistema Único de Saúde (SUS) vai oferecer a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por até 80% dos casos de bronquiolite e por 60% das pneumonias em crianças menores de dois anos. A imunização será voltada a gestantes, entre a 28ª semana e o fim da gravidez, permitindo a transferência de anticorpos da mãe para o bebê.
A medida chega em um momento de alerta. Apenas em 2025, o país já registrou aumento de 52% nos casos da doença em crianças de até dois anos, segundo a Fiocruz. Entre janeiro e 6 de setembro, foram notificados 33.485 casos de VSR, contra 22.046 no mesmo período de 2024.
O VSR circula principalmente no inverno e provoca complicações como bronquiolite, bronquite e pneumonia. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2018 e 2024, mais de 83 mil bebês prematuros precisaram de internação no país devido a infecções associadas ao vírus.
A gravidade da doença é evidente: a cada cinco crianças infectadas, uma necessita de atendimento médico. Em média, uma em cada 50 acaba hospitalizada ainda no primeiro ano de vida. Entre prematuros, o risco é ainda maior — a taxa de mortalidade chega a ser sete vezes superior à de bebês nascidos a termo.
“Quanto mais precoce a infecção, maiores as chances de complicações e até de sequelas, como chiado recorrente e desenvolvimento de asma”, explica o infectologista Renato Kfouri.
Potencial de impacto da vacina
Especialistas projetam que a vacinação contra o VSR poderá evitar cerca de 28 mil internações por ano no Brasil. Além de proteger recém-nascidos de complicações imediatas, a imunização também pode reduzir problemas respiratórios no longo prazo.
“Em países que já implementaram estratégias de prevenção da bronquiolite, houve queda de até 50% nas visitas a emergências pediátricas e ocupação de UTIs. Isso significa leitos liberados para outras necessidades e menos sobrecarga para as famílias”, acrescenta Kfouri.
Produção nacional e distribuição
O imunizante que será oferecido no SUS é o Abrysvo, da Pfizer, aprovado pela Anvisa em abril de 2024. A vacina será produzida em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo, por meio de um acordo de transferência de tecnologia.
As primeiras 1,8 milhão de doses já foram adquiridas e devem ser entregues até dezembro. A distribuição será escalonada: em novembro, o Ministério da Saúde enviará 832,5 mil doses, e, até o fim do ano, mais 1 milhão chegará aos postos de vacinação em todo o país.
“É uma proteção dupla: gestante e bebê são imunizados, e o Brasil ganha autonomia tecnológica, geração de emprego e inovação”, destacou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante a assinatura do acordo.
Outras tecnologias disponíveis
Além da Abrysvo, o SUS também vai incorporar o anticorpo monoclonal Beyfortus (nirsevimabe), da Sanofi, aprovado em 2023 pela Anvisa. Diferente da vacina, que estimula o corpo a produzir anticorpos, o nirsevimabe fornece a proteção pronta, garantindo defesa imediata contra o vírus.
Até agora, a única opção existente no SUS era o palivizumabe, indicado apenas para casos específicos: bebês prematuros extremos e crianças com doenças pulmonares crônicas ou cardiopatias congênitas graves.
Situação atual no Brasil
A temporada de maior circulação do VSR já passou na maior parte do país, mas o Amazonas ainda registra aumento de casos graves. Após a pandemia de Covid-19, especialistas notaram que os surtos deixaram de ser previsíveis e passaram a ocorrer em diferentes épocas do ano, surpreendendo hospitais e famílias.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), a maioria das crianças será infectada pelo VSR antes dos dois anos de idade. Em grande parte dos casos, os sintomas lembram um resfriado comum, mas em bebês e crianças pequenas o quadro pode evoluir para bronquiolite, exigindo internação.
Valores na rede privada
Na rede particular, a imunização tem custo elevado e limitado a quem pode pagar. Os valores médios são:
Com a incorporação ao SUS, o governo busca democratizar o acesso à proteção e reduzir o impacto financeiro da doença nas famílias brasileiras.
Medidas de prevenção complementares
Além da vacina, especialistas reforçam a importância de cuidados simples no dia a dia:
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Higienizar bem as mãos antes de tocar no bebê;
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Evitar contato com pessoas gripadas, tossindo ou espirrando;
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Manter ambientes arejados;
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Reduzir a exposição de recém-nascidos a aglomerações.
Uma virada histórica
A chegada da vacina contra o VSR ao SUS representa um marco na saúde pública infantil no Brasil. Com a ampliação do acesso, o país dá um passo importante para reduzir mortes e internações, proteger gestantes e recém-nascidos e aliviar a sobrecarga no sistema de saúde.
Com informações do G1