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EUA quase dobram importações de ovos brasileiros em meio à crise causada pela gripe aviária

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EUA quase dobram importações de ovos brasileiros em meio à crise causada pela gripe aviária
Imagem: Divulgação / Reprodução

Os Estados Unidos quase dobraram as importações de ovos do Brasil e estão considerando flexibilizar regulamentações para o uso de ovos postos por frangos criados para corte, como parte dos esforços do governo do presidente Donald Trump para reduzir os preços altíssimos causados pela gripe aviária no país.

As importações de ovos brasileiros, que anteriormente eram destinados apenas para ração animal, aumentaram 93% em fevereiro em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Embora esses ovos não sejam destinados às prateleiras dos supermercados americanos, poderão ser utilizados em alimentos processados, como misturas para bolo, sorvete ou molho para salada, o que liberaria mais ovos frescos para os consumidores finais.

Em janeiro, o governo Trump autorizou a importação de ovos brasileiros para processamento em produtos alimentícios para consumo humano, após terem sido anteriormente permitidos apenas para uso em alimentos para animais de estimação. As autoridades brasileiras já haviam comprovado que o país atende aos requisitos dos EUA para exportar ovos processados para consumo humano, informou a ABPA.

No entanto, devido à presença da doença de Newcastle no Brasil, um vírus que frequentemente mata aves, o país não pode fornecer aos EUA ovos para venda direta em supermercados ou ovos líquidos pasteurizados para consumo humano, conforme determinação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

A pressão econômica persiste em todo o território americano devido ao vírus da gripe aviária, que já dizimou quase 170 milhões de galinhas, perus e outras aves desde o início de 2022. Os consumidores enfrentam prateleiras com estoques reduzidos, restaurantes aumentaram os preços nos cardápios e os preços dos ovos no atacado subiram 53,6% em fevereiro, antes de registrarem uma leve queda em março.

A escassez de ovos tem pressionado a inflação de alimentos, mesmo com as disputas comerciais iniciadas por Trump ameaçando interromper as cadeias de suprimentos e aumentar os custos de produtos frescos e outros bens. Em fevereiro, o governo anunciou um plano de US$ 1 bilhão para reduzir os preços dos ovos, incluindo ajuda aos agricultores para evitar a disseminação do vírus e pesquisas sobre opções de vacinas.

Além de aumentar as importações do Brasil, a administração Trump também está promovendo a compra de ovos de países como Turquia e Coreia do Sul, que normalmente enviam poucos ovos para os EUA, e solicitou à Europa que aumente suas exportações para o mercado americano.

Paralelamente, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) está analisando uma petição do Conselho Nacional do Frango para permitir a venda, para consumo humano, de ovos postos por frangos de corte. Atualmente, os produtores destroem milhões desses ovos porque não possuem refrigeração suficiente para atender a uma exigência de segurança alimentar da FDA.

Em 2023, a FDA negou uma solicitação semelhante do conselho, citando o risco de contaminação por salmonela. No entanto, o setor de frangos espera que a agência agora apoie o esforço, alinhando-se com a meta de Trump de reduzir regulamentações consideradas desnecessárias, segundo Ashley Peterson, vice-presidente sênior de assuntos científicos e regulatórios do conselho.

"Precisamos de mais gemas para as pessoas", declarou o deputado Dusty Johnson, da Dakota do Sul, que está co-patrocinando um projeto de lei para permitir que esses ovos sejam usados em produtos alimentícios.

Segundo o Conselho Nacional do Frango, anualmente, frangos de corte põem cerca de 360 milhões de ovos que não são adequados para o nascimento de pintinhos. Alguns são usados para fabricar vacinas, exportados ou utilizados para outros fins, mas a maioria é destruída. A Wayne-Sanderson Farms, um dos principais produtores de carne de frango dos EUA, provavelmente descarta cerca de 500.000 ovos por semana que não atendem às especificações, conforme informou Mark Burleson, diretor sênior de serviços veterinários da empresa.

Esses ovos já foram vendidos a fábricas de processamento para serem pasteurizados e usados em alimentos processados. Porém, em 2009, uma norma da FDA com o objetivo de reduzir as doenças causadas por salmonela passou a exigir que os ovos fossem refrigerados a 45 graus Fahrenheit (7 graus Celsius) a partir de 36 horas após a postura.

Os produtores de frango mantêm os ovos de corte a cerca de 65 graus e não dispõem de equipamentos para refrigerá-los a uma temperatura mais baixa dentro do cronograma estabelecido pela FDA, segundo o conselho e agricultores. O conselho argumenta que os ovos não representam ameaça à saúde pública porque são pasteurizados, e afirma não ter conhecimento de problemas de segurança relacionados a esses ovos antes da edição da norma de 2009.

No entanto, especialistas em segurança alimentar alertam que a refrigeração insuficiente pode aumentar os agentes patogênicos a níveis em que a pasteurização não é totalmente eficaz. "Há uma possibilidade real de se trocar um risco maior de doenças transmitidas por alimentos por alguma proporção de ovos destinados ao mercado de produtos derivados de ovos", afirmou Susan Mayne, ex-diretora do Centro de Segurança Alimentar e Nutrição Aplicada da FDA quando a petição anterior foi analisada.

Como parte dos esforços para amenizar a crise, estados como Nevada e Arizona suspenderam as políticas de bem-estar animal que exigiam que os ovos viessem de galinhas livres de gaiolas, buscando lidar com a escassez de suprimentos e os altos preços no mercado interno.


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