A indústria brasileira voltou ao campo positivo em outubro após registrar retração em setembro. Dados divulgados nesta terça-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção industrial avançou 0,1% na comparação com o mês anterior, revertendo a queda de 0,4% observada anteriormente.
No acumulado de 12 meses, o setor registra crescimento de 0,9%, desempenho que indica perda de ritmo e representa o menor resultado desde março de 2024 (0,7%). Em março de 2025, o indicador chegou a 3,1%. Já frente a outubro de 2024, houve retração de 0,5%.
A média móvel trimestral apontou leve alta de 0,1%, e o nível atual de produção coloca o setor 2,4% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020), mas ainda 14,8% abaixo do pico histórico, atingido em maio de 2011.
Setores pressionam alta
Na passagem de setembro para outubro, 12 dos 25 segmentos industriais registraram avanço na produção. Entre os principais destaques estão:
-
Indústrias extrativas: 3,6%
-
Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos: 4,1%
-
Confecção de artigos do vestuário e acessórios: 3,8%
-
Veículos automotores, reboques e carrocerias: 2%
-
Produtos químicos: 1,3%
-
Produtos alimentícios: 0,9%
Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo, o desempenho das indústrias extrativas foi determinante para o resultado positivo no mês.
“O avanço foi influenciado pela maior extração de petróleo, minério de ferro e gás natural”, afirmou.
Resultados negativos
Alguns segmentos, contudo, apresentaram quedas expressivas, segurando uma recuperação mais robusta:
-
Produtos farmoquímicos e farmacêuticos: -10,8%
-
Derivados do petróleo e biocombustíveis: -3,9%
-
Impressão e reprodução de gravações: -28,6%
-
Produtos do fumo: -19,5%
Juros altos limitam expansão
Para André Macedo, o ambiente de juros elevados continua sendo um dos principais obstáculos ao crescimento do setor.
“Acaba impedindo um avanço maior, não só do setor industrial, mas da economia como um todo, uma vez que tem impacto na concessão do crédito”, explica.
A taxa básica de juros, a Selic, permanece em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006, em meio ao esforço do Banco Central para conter a inflação — que acumula 4,68% em 12 meses e segue acima do teto da meta (4,5%).
O efeito do aperto monetário é conhecido: menor consumo, desaceleração do investimento e fragilidade no ritmo de atividade.
Apesar disso, Macedo lembra que o mercado de trabalho tem mostrado recuperação, com queda do desemprego e aumento de renda, o que contribui parcialmente para sustentar a produção.
Tarifas dos EUA afetam setores
Além do juro alto, o chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos em agosto também impactou parte da atividade industrial.
Segundo o IBGE, setores como madeira, calçados, minerais não metálicos (como granito) e máquinas e equipamentos registraram queda influenciada pela imposição tarifária.
O levantamento, porém, não traz detalhamento obrigatório das empresas sobre os motivos da redução na produção, o que leva o instituto a considerar possível subnotificação dos efeitos.
Apesar disso, Macedo pondera que o peso maior sobre o desempenho do setor ainda vem da política monetária restritiva no Brasil.
Contexto internacional
O tarifaço foi adotado pelo governo americano com o argumento de proteger a economia doméstica. Em julho, os Estados Unidos anunciaram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em meio a atritos políticos entre os governos.
No dia 20 de novembro, o presidente Donald Trump retirou uma parcela das sobretaxas, reduzindo tarifas para carne e café, mas parte relevante das exportações segue taxada.
Segundo estimativa do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, 22% dos produtos brasileiros destinados aos EUA ainda são afetados.