A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os primeiros testes clínicos em humanos do GB221, uma terapia gênica avançada destinada ao tratamento da Atrofia Muscular Espinhal (AME) Tipo 1, a forma mais grave e precoce da doença.
O anúncio ocorreu na segunda-feira (24), durante reunião do Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis), realizada em São Paulo. A aprovação foi concedida por meio de análise prioritária, reforçando o protagonismo do Brasil na pesquisa de terapias inovadoras na América Latina.
Desenvolvida pela empresa norte-americana Gemma Biotherapeutics (GEMMABio), a terapia GB221 será conduzida clinicamente em parceria com a Fiocruz, que também firmou um acordo de transferência de tecnologia por meio de Bio-Manguinhos. A iniciativa abre caminho para que o país produza, pela primeira vez, uma terapia gênica em solo nacional.
A chamada Estratégia Fiocruz para Terapias Avançadas busca estruturar bases científicas, tecnológicas e produtivas capazes de viabilizar o acesso a esses tratamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde já destinou R$ 122 milhões ao projeto de pesquisa voltado a doenças raras, enquanto a Finep investiu cerca de R$ 50 milhões na infraestrutura necessária para a produção dessas tecnologias.
Com domínio consolidado da plataforma de vetores virais utilizada, por exemplo, na produção da vacina contra a Covid-19, Bio-Manguinhos se coloca como referência nacional para o desenvolvimento e fabricação de terapias gênicas.
A iniciativa integra o esforço do Ministério da Saúde para fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis) e ampliar a Política Nacional de Atenção às Pessoas com Doenças Raras. O objetivo é garantir autonomia tecnológica ao país e oferecer soluções que contribuam para a sustentabilidade financeira do SUS diante dos altos custos das novas terapias.
Para o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, o avanço representa um marco histórico.
“É emocionante colocar nossa capacidade científica a serviço das crianças brasileiras. O estudo autorizado tem potencial para transformar vidas por meio de técnicas de terapia gênica, uma fronteira de ponta da ciência mundial”, afirmou.
A diretora de Bio-Manguinhos, Rosane Cuber, destacou o impacto estratégico da parceria.
“A entrada de terapias gênicas em nosso portfólio fortalece a soberania científica do Brasil. Cada avanço representa esperança real para milhares de famílias que convivem com doenças raras”, ressaltou.
Testes clínicos
A AME Tipo 1 é uma doença rara que se manifesta ainda nos primeiros meses de vida. Ela é causada pela ausência ou alteração do gene SMN1, responsável pela produção de uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores. Sem essa proteína, ocorre perda progressiva da força muscular, podendo levar à insuficiência respiratória e até à morte nos primeiros anos de vida.
Com o início dos testes clínicos, o Brasil avança em uma das áreas mais inovadoras da medicina de precisão, oferecendo novas perspectivas para famílias afetadas pela doença.